quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Bastidores Natal


Assim se faz um panetone artesanal

TEXTO: ANA MUNIZ

Presença obrigatória nas mesas de Natal, o panetone conquistou os brasileiros, principalmente por causa da imigração italiana do início do século passado. As principais marcas do mercado são a prova disso: Bauducco, Visconti, Cristallo... Outra família que se aventurou a atravessar o oceano, da Itália para o Brasil, é a Di Cunto, que também trouxe na bagagem a receita artesanal de um pão doce feito com frutas secas. Aquele simples doce que a família italiana tanto gostava é hoje o disputado panetone feito desde 1939 na já tradicional fábrica e doceria Di Cunto, instalada no bairro da Mooca.
Quando se vê o panetone na prateleira, ninguém imagina o trabalho que dá para fazê-lo. todo dia, dez confeiteiros produzem ali 150 panetones de 1 quilo ou 300 unidades de 500g. Entre novembro e dezembro, são feitas 55 mil unidades – entre 1k, 750g e 500g. Na Di Cunto, os panetones não são exclusividade da época do Natal. Ele é preparado diariamente, de janeiro a dezembro.
Para que os leitores de RSVP entendam melhor todo o processo que dá origem ao item mais popular das mesas natalinas, nossa reportagem invadiu a cozinha da família Di Cunto. Conheça a seguir alguns fatos básicos e algumas curiosidades sobre a produção do legítimo panetone artesanal.

Fundada em 1935, a história da doceria Di Cunto começa com um engano de país. Em 1878, o italiano Donato Di Cunto, órfão de pai desde os 14 anos, decidiu migrar para Montevidéu com apenas 17 anos, onde a mãe tinha parentes. Analfabeto quando embarcou em Nápoles com destino a Montevidéu, recebeu da mãe a orientação de que deveria desembarcar no terceiro porto contado após a travessia do Atlântico: Rio de Janeiro, Santos e, finalmente, Montevidéu. Mas, durante a longa viagem de navio, houve a bordo um surto de uma doença contagiosa, que obrigou o navio a fazer uma parada forçada, para um período de quarentena. O imprevisto confundiu o garoto, que considerou o porto de Santos como a terceira parada e desembarcou. Em Santos, percebeu o erro, pois não havia ninguém para encontrá-lo e muito menos quem compreendesse o italiano. Percebeu que não tinha mais volta. Sorte dos paulistanos. Caso contrário, não conheceriam o famoso panetone da família!
Em São Paulo, trabalhou como carpinteiro e teve como chefe o arquiteto Ramos de Azevedo. Mas queria mais. “O Donato sempre quis ter um negócio próprio e trazer a família”, explica o bisneto Marco Alfredo Di Cunto Jr, responsável pelo departamento de marketing. Em 1889, inaugurou uma das primeiras padarias de São Paulo. Mais tarde a segunda, localizada na Alameda Taubaté, hoje Borges de Figueiredo, que abriga a Di Cunto desde então. Com duas padarias, decidiu fechar a primeira e investir todos os esforços na recém comprada. Voltou para a Itália para buscar mais familiares e nunca mais voltou.
Os filhos – Vicente, Lorenzo, Roberto e Alfredo – vieram para o Brasil, reacenderam o forno e inauguraram a Irmãos Di Cunto em março de 1935, que cresceu, cresceu e cresceu como uma massa de panetone e hoje tem 8 mil m2 de área construída, sob o comando dos netos de Donato – Reinaldo, Marco Alfredo, Paula Porta e Antônio Carlos Di Cunto.
A estrela da casa é o panetone, mas o misto de doceira, fábrica, restaurante e rotisserie possui uma linha de mil produtos, entre doces napolitanos, como o sfogliattele, massas caseiras, salgados e pães. A produção do bolo natalino movimenta cifras impressionantes: a cada ano, são consumidos 475 kg de gotas de chocolate, 6 toneladas de uvas-passas, 3800 kg de frutas cristalizadas, 3800 kg de gemas, 15 toneladas de margarina e gordura vegetal e 70 toneladas de farinha de trigo. O processo todo dura 72 duas horas, dos ingredientes crus às prateleiras da loja.
A primeira fase é a produção do fermento natural e da massa, feita no fim da tarde pelo chefe da confeitaria Silvio Barbosa, que trabalha desde 1985 na Di Cunto. “Não usamos fermento industrializado, pois o que fazemos aqui garante um sabor especial ao produto”, explica Barbosa. A massa descansa de 12 a 14 horas e, no dia seguinte, às 6h30, os funcionários já trabalham a todo vapor. Colocam a massa do dia anterior na batedeira industrial, onde ela recebe mais um reforço (com farinha, gemas e leite). Para os 170 kg de massa que são fabricados diariamente - e que rendem 150 panetones de 1 quilo ou 300 de 500g -, usa-se 10 kg de frutas cristalizadas e 20 kg de uvas-passas para a receita tradicional ou 15 kg de gotas de chocolate para fazer os chocotones.
Misturados todos os ingredientes, é hora de pesar e dividir a massa em nacos de 1 kg, 500 g ou 750 g. Em seguida, os padeiros arrumam os panetones em tabuleiros, para que descansem por mais duas ou três horas. Depois, os panetones são enrolados manualmente – processo feito desde a inauguração da casa -, colocados em formas de papel e levados ao forno por 50 minutos. Só no dia seguinte, após resfriar, eles são embalados.
O segredinho para que o panetone faça tanto sucesso a família não revela. Mas Marco Alfredo acredita que um dos fatores é a dedicação dos funcionários. “Como a empresa é familiar, não abrimos mão do respeito e carinho pelos funcionários. Temos trabalhadores que estão aqui há 40 anos”, orgulha-se. Outro detalhe que ajuda a manter a qualidade é que, após o panetone ficar pronto e antes de ir para a loja, os sócios se revezam para experimentar o produto. “Assim, temos certeza de que está bom”, conta. Um dos orgulhos da família é que a Di Cunto é a mais antiga fábrica de panetone em atividade no Brasil. “Ensinamos o nosso cliente a comer panetone o ano inteiro sem ter de esperar pelo Natal”, finaliza Marco Alfredo.

Di Cunto: Rua Borges de Figueiredo, 61/103 – Mooca. Tel.: 6292-7522.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Gastronomia: A Rota das Flores


INGREDIENTE DE PRATOS SOFISTICADOS, A FLOR ENFEITA
E DÁ SABOR À CULINÁRIA DA PRIMAVERA

TEXTO: ANA MUNIZ

Charmosas, perfumadas e coloridas, as flores remetem a emoções. São lembradas para alegrar um ambiente, para demonstrar carinho, declarar amor e até para pedir desculpas. Enfeitam roupas, gastronomia, cabelos, casas e pratos. Mas poucos se lembram de que também podem ser um sofisticado ingrediente de culinária, enriquecendo iguarias como risotos, massas, saladas e o que mais a imaginação inventar. As comestíveis mais conhecidas são amor-perfeito, calêndula, capuchinha, cravo, dente-de-leão, hibisco, lavanda, rosa e violeta. Sinônimo de sofisticação, hoje fazem parte do cardápio de inúmeros restaurantes paulistanos, que as utilizam para realçar o sabor dos pratos e deixá-los mais atraentes. Transformaram-se até em drinques, com restaurantes oferecendo bebidas à base de essência de flores para celebrar a primavera.

Quem ainda se surpreende com a preparação de pratos com flores, deve lembrar que, até poucos séculos atrás, o tomate, na Europa, era utilizado para enfeitar vasos. Demorou para os europeus descobrirem que aquela bolinha vermelha e reluzente também era comestível.
Hoje, quando se fala em flores como ingrediente, muitos torcem o nariz e acham que é apenas uma moda passageira. Um engano, já que o hábito de incluí-las na culinária existe desde a Idade Média. A nutricionista e especialista em gastronomia Andréa Esquivel, que tem inúmeros artigos publicados sobre flores comestíveis, conta que a idéia de ingeri-las surgiu no século 17, na França, ganhando força com a culinária do banqueteiro francês François Vatel (1631-1671), que fez fama e escola mundo a fora por causa da apresentação glamourosa e refinada de seus pratos. “Era uma época repleta de saraus e banquetes. Então, para dar um toque decorativo e, principalmente, de requinte, utilizavam-se flores”, explica Andréa. Logo, inúmeros países europeus assimilaram a iguaria. Na Inglaterra, no período da rainha Vitória, as mulheres serviam com orgulho pétalas de rosas cristalizadas, preparadas em uma mistura simples de água, clara de ovo e açúcar. Mas nem todas as espécies podem ser ingeridas. Existem as tóxicas, como as violetas africanas, os crisântemos, o copo-de-leite e o lírio, entre outras.

Maní
Rua Joaquim Antunes, 210 – Jardim
Paulistano. Tel.: 3085-4148.
No restaurante comandado pela chef Helena Rizzo, a salada mata atlântica (flores do campo, agrião, rúcula, mache, azedinha, manga, pupunha, aipo e maracujá ao azeite) é a preferida da clientela. Preço: R$ 28.
Matriz Hamburgueria
Rua Mário Ferraz, 404 – Itaim.
Tel.: 3167-0678.
A hamburgueria oferece a leve e gostosa
Matriz flower salad (erva-doce, alfaces diversas, rúcula, palmito pupunha, tomate
caqui, endívia, croutons da casa, molho francês e flores comestíveis). R$ 19,90.
Nakasa Sushi
Rua da Consolação, 3147 – Consolação.
Tel.: 3064-0970.
No restaurante japonês fazem sucesso as cestinhas de harumaki (tataki de peixe
assado direto no fogo ou grelhado numa chapa quente com a flor calandiva). R$ 17.
Natural & Taste
Rua Haddock Lobo, 855
Cerqueira César. Tel.: 3891-0244.
O chef Kiko Hwang reformulou o cardápio e incluiu uma série de pratos com flores,
como a salada primavera (escarola, alface americana, agrião, tomate-cereja, milho
e amor-perfeito) R$ 8. Experimente também o drinque floral (infusão de pétalas de amor-perfeito com mel, gengibre e gim) por R$ 16.
Picchi
Rua Jerônimo da Veiga, 36 – Itaim Bibi.
Tel.: 3078-9119
O chef faz pratos com a iguaria há quase dez anos. Entre eles, o ceviche de salmão com flores comestíveis. Preço R$ 32.
São Paulo-Tokyo
Rua Borges Lagoa, 1
172 – Vila Clementino.
Tel.: 5575-8125.
Faz sucesso o sushi com flor comestível (tartar de salmão)
batido com pepino japonês, um pouco de maionese, cebolinha
picada, azeite trufado, flor de sal e pétalas de flor de capuchinha –
porção para quatro pessoas, R$ 42. Opção: o temaki de camarão cozido com tiras
bem finas de pepino japonês e pétalas de flor de capuchinha. R$ 18.
Tantra
Rua Chilon 364 – Vila Olímpia.
Tel.: 3846-7112.
Em homenagem à primavera, o chef e proprietário Eric Thomas criou um
cardápio completo com flores, incluindo a salada japonesa wafu (com legumes
variados, sushi de frutas e flores comestíveis), R$ 20.
Terraço Jardins
Al. Santos, 2233 – Jardins. Tel.: 3069-2621.
Sugestão: o robalo com lâminas de amêndoas, pupunha assada e flores
(calêndula ou capuchinha). R$ 54.
Torero Valese
Rua Horácio Lafer, 638. Tel.:3168-7917.
O chef e proprietário Juliano Valese serve carpaccio de jamon com melão e geléia de pimenta com amor-perfeito. R$ 35,90.
DRINQUES:
Museum
Rua James Joule, 65 – Brooklin.
Tel.: 5507-3650.
O dining club celebra a primavera com a criação de três drinques: clockwork orange (vodca, licor de pêssego, monin de tangerina, suco de abacaxi, hortelã e
água de flor de laranjeira), purple haze (vodca, sucos cítricos e xarope de violeta) e red rose (saquê, suco, licor de morango e xarope de rosas). R$ 24.
Forneria San Paolo
Rua Amauri, 319. Tel.: 3078-0099.
A casa oferece o drinque primavera (uva, vodca com gelo, licor de violeta e
amor-perfeito para decorar). R$ 25.
Badebec
Avenida Giovanni Gronchi, 5 819
(Shopping Jardim Sul). Tel.: 3742-1488.
O restaurante serve o torteli de chèvre ao limone e flores de capuchinha e o tabule
de frutas secas e flores comestíveis. Durante a semana, funciona em sistema
de quilo. Nos fins de semana, o preço é fixo: R$ 35,40 (sáb.) e R$ 45,20 (dom.)
Casa da Fazenda
Avenida Morumbi, 5 594 – Morumbi.
Tel.: 3742-2810.
Durante a primavera, o chef Vincenzo Vessicchio brinda a estação com pratos
especiais servidos durante o almoço executivo. Exemplos: risoto de prímula
por R$ 40, e tagliata de filé mignon e batata crocante com flores a R$ 60.
Dressing
Rua Amauri, 337 – Itaim. Tel.: 3167-5347.
No badalado endereço, o chef Edinaldo Santana faz a salada primavera
(morangos, camarões, alfaces roxa e lisa, rúcula e a flor amor-perfeito). R$ 45,00.
Govinda
Rua Princesa Isabel, 379 – Campo Belo.
Tel.: 5092-4816.
Na casa de cardápio indiano, a dica é provar o fetuccine ao molho de rosas e
vinho do Porto. R$ 79,90.
Kinoshita
Rua Jacques Félix, 405 – Vila Nova
Conceição. Tel.: 3849-6940.
O chef Murakami prepara o ikurá oroshi do bosque (nabo ralado, ovas de salmão e as flores amor-perfeito, borago, calêndula, capuchinha e rosa). R$ 48.
Wraps
Rua Oscar Freire, 206. Tel.: 3562-0420.
Especializados em alimentação saudável, uma boa opção é o smoothie laranjeira
(combinação de abacaxi com maçã verde, água de rosas e frozen iogurte). R$ 9,90.
ONDE COMPRAR AS FLORES :
CASA SANTA LUZIA
Alameda Lorena, 1 471 – Jardins.
Tel.: 3897-5000.
Vende amor-perfeito, capuchinha,
calêndula e minirrosas.
EMPÓRIO SANTA MARIA
Av. Cidade Jardim, 790 – Itaim.
Tel.:2102-77003816-1329.
Aqui você encontra rosas e a capuchinha.
ERVAS FINAS
Tel.: 4039-1054. Mais informações:
www.ervasfinasnet.com.br
Produz vários tipos de flores com cultivo totalmente isento de produtos
químicos. Entre elas, amor-perfeito, borago, calêndula, capuchinha,
minirrosa e flor de abobrinha.
PÃO DE AÇÚCAR
Av. Brigadeiro Luís Antônio, 3 126
Jardim PaulistaAv. Brigadeiro Faria
Lima, 2 232 (Shopping Iguatemi). Mais informações Tel.: 0800-7-732-732.
Há opções de capuchinha amarela,
laranja e violeta.

CHEF ITALIANO ENSINA O SEGREDO
PARA CRIAR PRATOS COM FLORES


Há dois anos à frente da cozinha da Casa da Fazenda, o chef italiano Vincenzo Vessicchio adora criar pratos à base de flores comestíveis, o que faz já há oito anos. “No meu país, como o inverno é muito rigoroso, procuramos valorizar ao máximo a primavera e toda a sua belíssima florada”, conta. Com toda a experiência adquirida, ele ensina que, como as flores são muito delicadas, a maneira ideal é prepará-las em saladas e receitas rápidas, que não cozinhem por muito tempo, como risotos e tempurás.“ Se ficarem horas no fogo, escurecem e perdem todo o frescor”, diz. Defensor de pratos à base desse precioso ingrediente, Vincenzo acredita que a única dificuldade em trabalhar com o produto é o custo alto: “não é todo mundo que faz esse tipo de cultivo, o que aumenta os preços. Sem contar que é difícil encontrar várias opções de flores”. Para quem quer surpreender os amigos, Vessicchio ensina a preparar um prato gostoso e diferente. E, é importante saber que as flores utilizadas na alimentação não são as mesmas vendidas em floriculturas — que recebem produtos químicos durante o cultivo, para se manterem frescas e bonitas. “O ideal é comprá-las em locais especializados em flores comestíveis”, ensina Andréa. São endereços que adotam o cultivo orgânico, sem defensivos ou qualquer tipo de química. Uma curiosidade: muitas flores já fazem parte da nossa alimentação diária e nem nos damos conta, como o brócolis, a couve-flor e a alcachofra. Em terras brasileiras, elas estão presentes desde a chegada da corte portuguesa, principalmente para decorar os pratos. Hoje, se destacam em inúmeros restaurantes paulistanos. Confira a lista e... bom apetite!

Para o chef Vincenzo Vessicchio, da Casa da Fazenda, flor é ingrediente para o ano todo.
Abaixo, risoto primavera com prímulas.
Risoto Primavera (4 porções)
Ingredientes
• 280 a 300g de arroz arbóreo
• 1/2 litro de caldo de legumes
• 1 cebola picada
• 2 colheres cheias de manteiga
• 1 xícara de chá de queijo parmesão ralado
• 1 pacote de 200 g da flor comestível prímula
• 1 copo de champanhe
• 1/2 copo de azeite
Modo de preparo
Misturar a cebola e o azeite na panela até dourar.
Colocar o arroz e deixar tostar. Em seguida,
acrescentar o copo de champanhe, deixar evaporar
o álcool durante 3 a 4 minutos e começar a juntar
o caldo de legumes — aproximadamente, 18 minutos
da primeira à última concha. Desligar o fogo, reunir
a flor, a manteiga e o parmesão. Decorar e servir.

(revista RSVP - Editora Caras)

Três chefs mostram como você pode surpreender o seu pai com receitas gostosas e fáceis de fazer


TEXTO: ANA MUNIZ FOTOS: CLEIBY TREVISAN

Com gostinho de fazenda
Os tempos de criança vividos no interior da Bahia inspiraram
o chef da rede de hotéis Gran Estanplaza, Waldomiro Santos, a criar um típico café da manhã de fazenda. “No início, idéia era só fugir do convencional, mas os hóspedes e visitantes gostaram tanto que esse café com gostinho de interior já é servido aqui há três anos”, conta Santos. No buffet, há 28 itens que lembram os aromas do campo, como os de broa de milho, canjica, arroz doce, rabanada, curau, melado de cana, queijo coalho e pamonha. “Lembrei das receitas da minha mãe, daquele cheirinho de bolo de milho no forno”, explica ele, que nasceu em Caetité, interior baiano. E é justamente o bolo de milho verde, tão saboroso e macio que se desmancha na boca, o preferido de todos: não há quem resista! O melhor é que a receita é fácil, como você pode checar ao lado. O café da manhã custa R$ 35 por pessoa e, no Dia dos Pais, será servido das 6 às 11 horas.
Gran Estanplaza: Rua Arizona, 1 517 – Brooklin.
Tel.: 0800-726-1500.


BOLO DE MINHO VERDE

INGREDIENTES (12 porções)
• 6 espigas de milho verde
• 2 colheres (sopa) de manteiga
ou margarina derretida
• 1 colher (sobremesa) de fermento em pó
• 1 colher (café) de canela em pó
• 2 xícaras (chá) de leite
• 2 xícaras (chá) de açúcar
• 4 ovos
Gran Estanplaza: Rua Arizona, 1 517 – Brooklin.
Tel.: 0800-726-1500.

MODO DE PREPARO
Retire todos os grãos de milho com o auxílio de uma faca bem afiada, cortando-
os bem junto ao sabugo. Coloque no liquidificador, bata um pouco e junte o açúcar, o leite, a manteiga, os ovos e a canela. Por fim, adicione o fermento, fora do liquidificador. Coloque na fôrma untada e asse no forno pré-aquecido. Desinforme frio.

Direto do Oriente
Já pensou em surpreender seu pai com um café da manhã oriental? À primeira
vista, o cardápio parece um típico almoço nipônico, mas, na realidade, trata-se de um café da manhã japonês, servido no recém-inaugurado Royal Hotel, nos Jardins. “No Japão, os trabalhadores tomam café reforçado. Afinal, trabalham até 14 horas por dia”, diz a gerente-geral Elly Shimasaki. Para executar os pratos
com precisão, o chef Edinaldo João da Silva passou por um treinamento com profissionais orientais. O resultado é um menu com omelete japonesa, arroz, miso, shiro, tofu, caldo de galinha e soja em conserva. Mas a es trela deste “café-almoço”, com 15 iguarias, é uma deliciosa berinjela ao molho de gengibre, saquê e
shoyu, que tem sabor adocicado e é servida com salmão grelhado. “Os hóspedes japoneses, quando vêem esse café da manhã, sentem-se em casa. Já os brasileiros experimentam por curiosidade e sempre gostam”, diz Silva. Preço por pessoa: R$ 30. O café é servido das 7 às 11 horas. Royal Jardins: Al. Jaú, 729 – Jardins. Tel.: 3245-7700.

BERINJELA REFOGADA

INGREDIENTES
(para 4 porções)
• 500 g de berinjela
japonesa
• 4 colheres (sopa)
• Um pedacinho de gengibre

INGREDIENTES
DO TEMPERO
• 200 ml de água
• 3 colheres (sopa)
de shoyu
• 2 colheres (sopa)
de açúcar
• 1 colher (sopa)
de saquê

MODO DE PREPARO
Lave as berinjelas e tire as pontas. Corte-as ao meio
e, em seguida, em fatias de 1 a 1,5 cm de espessura.
Coloque para fritar e espere dourar, com a casca pa -
ra baixo. Depois, coloque o tempero que foi previamente preparado, vire as fatiase deixe em fogo baixo por 5 ou 6 minutos. Sirva-as com salmão grelhado e gengibre ralado.

MODO DE PREPARO
DO TEMPERO
Misture a água, o shoyu,
o açúcar e o saquê. Reserve.

Leve, light e natural
Para os pais preocupados com a boa forma, uma boa sugestão é o café da manhã light desenvolvido pela chef e consultora gastronômica Adriana Cymes, para o restaurante Frutaria São Paulo. Próxima ao Parque do Ibirapuera, a casa nasceu com vocação para a gastronomia saudável. “Hoje em dia, não são só as mulheres que se preocupam com o corpo. O homem moderno é vaidoso e quer viver com qualidade”, diz. No café desenvolvido por Adriana, há iogurte desnatado com granola, pão integral, queijo branco e suco de abacaxi com erva-cidreira. Para repor as energias, o papai esportista também pode saborear uma boa taça de açaí. E tem mais. O desjejum também inclui uma saborosa e leve omelete de claras recheada com queijo cottage e peito de peru. Aos domingos, o café da manhã é das 8h às 12h. Não há um preço fixo para o café da manhã, paga-se o que consumir. A farta omelete custa R$ 21,90.


Frutaria São Paulo: Avenida Hélio Pellegrino, na altura do nº 100. tel.: 3846-1124.


OMELETE DE CLARAS
COM COTTAGE E PEITO DE PERU

INGREDIENTES DA MASSA
DA OMELETE
• 2 claras batidas em neve
• 4 claras
• sal
• pimenta-do-reino

INGREDIENTES DO RECHEIO
• 3 colheres (sopa) de queijo cottage
• 2 colheres (sopa) de peito
de peru picado
• 2 colheres (sopa) de alho poró
refogado
• 1 pitada de sal
• 1 pitada de pimenta-do-reino

MODO DE PREPARO DA MASSA
Bata as claras em neve junto com o sal e a
pimenta. Misture, em primeiro lugar, a metade
das claras em neve com as claras normais,
e depois a outra metade.

MODO DE PREPARO DO RECHEIO
Misture todos os ingredientes e reserve.

MODO DE PREPARO DA OMELETE
Esquente a frigideira com um pouco de azeite e co loque a massa. Quando a omelete estiver no ponto para virar, acrescente o recheio e feche-a.

(revista RSVP - Editora Caras)

Onde os coelhos fazem a festa o ano todo


TEXTO: ANA MUNIZ FOTOS: CAIO GUIMARÃES

Páscoa lembra renascimento, ovos de chocolate e, claro, o famoso coelhinho, símbolo da
fertilidade. Mas, além do conhecido coelho branquinho que as crianças adoram, há outras espécies pouco conhecidas como o lop, bem calmo, de orelhinhas caídas e que possui um pêlo bem macio. Para conhecer um pouco mais sobre a vida desses roedores tão adorados, principalmente pelas crianças, a dica é visitar a Fazenda Angolana, em São Roque, a 60 km de São Paulo. Lá, os coelhos são as estrelas. A fazenda abriga a maior criação de coelhos do Brasil, com 10 mil cabeças. O local é um verdadeiro paraíso para adultos e crianças que gostam de bichos. Na propriedade, vivem ainda animais de várias espécies, como lhamas, minipôneis, carneiros, cabritos, esquilos, emas, pavões,pássaros e cachorros, em uma área de 160 mil m2 de muito verde.

­A maior fazenda de cunicultura do Brasil — é esse mesmo o nome para a criação de coelhos — nasceu de um sonho do paulistano Ludwig Dewald Paraschim, de 70 anos. Descendente de suíços, o zootecnista sempre teve contato com a natureza e paixão por animais. Mesmo quando morou na Alemanha por cinco anos, época em que estudava metalurgia, dava um jeitinho e criava alguns coelhinhos em casa. De volta ao Brasil, trabalhou alguns anos na Volkswagen até que, há 25 anos, decidiu comprar uma fazenda para criação de coelhos. Foi batizada de Angolana — uma mistura de angorá (raça do coelho que criava) e lana (lã em
espanhol). O sucesso foi total e, na década de 90, chegou a ter 300 funcionários e 70
mil cabeças de coelhos angorá, que, com o pêlo tosquiado, dava origem a uma lã ultrafofa
ideal para confeccionar peças de cashmere. “Aí veio o Plano Collor e eu perdi tudo.
Nossa lã não valia mais nada”, lembra. A recuperação começou dez anos atrás de forma lenta, mas “persistente”, como define o proprietário. Entre as maneiras que encontrou para se reerguer, estava transformar a Angolana em uma fazenda múltipla. A criação de coelhos continua — mas não só de angorá. Hoje são mais de 20 raças diferentes de coelhos, que variam de 2 a 5 kg. Há também os gigantes, que podem chegar a até 8 kg. “Dos 10 mil coelhos da criação, apenas 50 são angorá”, diz Ludwig. A Angolana sobrevive da comercialização dos animais, da fabricação de gaiolas e do turismo. Na fazenda, o dia começa bem cedinho para Ludwig, por volta das 6h, ele já está circulando pela área, alimentandoos animais e recepcionando os 25 funcionários que chegam em torno de 7h. Os coelhos são as estrelas da fazenda e, além de entreter a criançada, também são vendidos para pet shops (alguns bem conhecidos, como o Cobasi), além de irem para abate em frigoríficos de todo o Brasil.
Neste local, tudo que é de coelho se aproveita. A lã ainda é retirada e vendida para a fabricação de artesanato; a pele se transforma em casacos e chapéus. Mas, com certeza, o principal atrativo da fazenda é o turismo. “Para torná-la mais interessante para o público, crio
outros animais, como lhama, avestruz e faisão.” O resultado foi tão positivo que hoje a fazenda conta com mais de 150 espécies diferentes. No local, há desde cães da raça beagle a minivacas. Por falar nos cachorrinhos, quem cuida de todos eles, mais de 35, é Daniel Dewald Paraschim, que comanda a fazenda ao lado do pai, Ludwig. “Os beagles fazem um enorme sucesso com os visitantes. Quando temos excursões de crianças, é uma loucura, porque essa é uma raça festeira, que adora brincar”, diz Daniel.

Na Angolana há mais de 20 espécies de coelhos. O tradicional branquinho custa a partir de R$ 15. Os de origem européia (ao lado) são vendidos a preços que variam de R$ 20 a R$ 50.
1 - A Chinchila, acinzentada, é a preferida para fazer casacos e tapetes. Pesa, em mé dia, 4 kg.
2 - A raça Lop, de orelhas caídas, é muito comercializada em pet shops, pois são bem calmos.
Pesam, no máximo, 2 kg.
3 - O Minifuzzi Lop, com pêlos na cara, também é o queridinho das pet shops. Também é calmo e tem a orelhas caídas. Pesa 2 kg.
4 - O Rex, de origem suíça, é uma espécie rara criada por cunicultores só como hobby. Na Europa, sua pele é usada em casacos. Pesa até 4,5kg. Com tantos bichinhos, não precisa nem
dizer que o local virou ponto turístico. Por semana, a fazenda recebe aproximadamente
três ônibus lotados de crianças que não vêem a hora de conhecer os coelhos e os outros animais criados por lá. “Muitas ficam fascinadas e com os olhos brilhando, pois nunca estiveram tão próximas dos animais”, diz o fazendeiro.

Na semana da Páscoa, vai haver uma programação especial na Aldeia dos Coelhos, um amplo espaço com muitos coelhinhos soltos para que as crianças possam senti-los e afagá-los. E, por falar neles, Ludwig avisa a adultos e crianças que, ao contrário do que dizem por aí, coelho não gosta de cenoura, mas sim da rama do legume. “O único coelho que eu conheço que gosta de cenoura é o Pernalonga”, brinca o zootecnista. Nos fins de semana, a fazenda recebe mais
de 200 visitantes (famílias inteiras) que buscam um contato maior com a natureza. Para recebê-los, há monitores de educação física, turismo, lazer e zootecnia. Cada um em sua área mostra como funciona o dia-a-dia na fazenda. Para aqueles que desejam passar o dia no local, a Angolana conta com uma lanchonete que serve de lanches e almoço. Os animais fazem tanto
sucesso na propriedade que o incansável Ludwig se prepara para encarar um projeto maior. “Até o segundo semestre deste ano vou fazer um zoológico da fauna brasileira dentro da fazenda com espécies como anta, arara e cotia. Quero ensinar a importância da preservação ambiental para a nossa vida”, finaliza o fazendeiro. ■

Fazenda Angolana: Estrada da Campininha, 257. Tel.: 4711-1640. (Rodovia Raposo Tavares altura do km 60, em São Roque). Escolas e grupos podem agendar visitas durante a semana,
a partir de R$ 10 por pessoa. No fim de semana, a entrada individual, custa R$ 1.
(revista RSVP. Editora Caras)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Um pedacinho de Cuba a uma hora de São Paulo



TEXTO: ANA MUNIZ FOTOS: CAIO GUIMARÃES

Poucos paulistanos que apreciam degustar e dar gostosas baforadas em habanos e puros imaginam que, a 100 quilômetros da capital (pouco mais de uma hora de viagem), existe uma fazenda que produz diariamente cerca de mil charutos com matéria-prima brasileira e tecnologia cubana. Na Fábrica La Union, comandada pelo cubano Diógenes Puentes desde 1999 no município de Boituva, são produzidos os produtos da marca Don Porfírio. O mestre charuteiro, como é chamado por causa de sua experiência na fabricação, participa e acompanha de perto todas as etapas da produção do charuto para garantir a qualidade.
Quem quiser conhecer um pouco mais sobre esse universo e saber como funciona uma fábrica de charutos pode participar das excursões até a La Union organizadas por Arthur Avedissian, dono da tabacaria Premium Cigars e um especialista no assunto. “O objetivo é proporcionar uma experiência única e com isso criar mais adeptos do mundo do charuto”, explica o paulistano.

Avedissian, que acaba de retornar de Cuba, conta que a idéia do passeio pela La Union é mostrar aos visitantes toda a magia que envolve a produção de um puro. A próxima visita, para 12 pessoas, está agendada para o dia 16 de maio. As inscrições podem ser feitas na Premium Cigars com o próprio Arthur pelo telefone 3266-5002 ou através do e-mail premiumcigars@premiumcigars.com.br.
A origem da Fábrica La Union é curiosa. Assim como o nome Don Porfírio, que significa Dom Teimoso, Diógenes Puentes, quando tem uma idéia, não desiste facilmente de levá-la adiante.
Após ter trabalhado por mais de 10 anos na fábrica cubana de charutos Romeu & Julieta — uma das mais famosas do mundo —, em 1998 ele veio visitar seu pai, que morava no interior de São Paulo, e percebeu que teria mais chances de evoluir e crescer economicamente se usasse seu know how para implantar aqui no Brasil uma manufatura de charutos. Mas que fique claro: Diógenes não é um refugiado de Cuba. “Meu pai já morava em Araraquara. Saí de Cuba de maneira legal, tanto que já voltei lá algumas vezes para rever meus parentes”, diz.
Após conhecer a região de Boituva, ele e seu compadre, o também cubano Mario Gonzalez, decidiram abrir a fabriqueta em 1999. Ele sofreu para recrutar quem quisesse ser charuteiro. Juntou sete mulheres e ensinou por três meses o ofício. “De dez que faziam o teste, só uma passava. É um trabalho difícil e requer talento, afinal envolve muita habilidade manual”, lembra. Pouco tempo depois, os dois atravessaram momentos bem difíceis financeiramente. Gonzalez saiu do empreendimento e Diógenes ficou só. Foi à falência, mas nem assim desistiu. Sem jamais perder a ternura e a esperança, conheceu em 2006 o empresário Luis Cláudio Barone. Dessa união de forças surgiu a La Union, que hoje possui 30 funcionários.
A primeira providência foi retirar todo o produto antigo do mercado e apresentar o novo. “Reformulamos tudo, desde a embalagem até o fumo. Então, decidimos fazer a troca sem custo nenhum para o comerciante, pois trata-se de um novo charuto”, explica Diógenes. Na fábrica, o charuto é feito artesanalmente, com 100% de tabaco natural, sem aditivos químicos, como ocorre no cigarro. Hoje, a La Union, que tem 100 mil puros no estoque, produz charutos long filler (feitos com folhas inteiras de fumo) e medium filler (com pedaços médios de folhas). A fábrica também faz cigarrilhas, chamadas de short filler, elaboradas com fumo picado. Todo o tabaco usado para fazer o Don Porfírio vem do Recôncavo Baiano — o quilo do fumo custa algo em torno de US$ 40. Nas tabacarias, um charuto Don Porfírio custa de R$ 8 a R$ 22.
Fábrica La Union: Rua Evaristo Martins de Lima, 522. Bairro Esplanada (Boituva). Tel.: (0xx15) 3363-1641.

Viaje ao Japão com o seu carro

TEXTO: ANA MUNIZ FOTOS: BRUNO BARRIGUELLI

Construções em estilo japonês, lagos com carpas, espaços para meditação e muita área verde com macacos, sabiás e beijaflores. Esse paraíso, chamado de Kinkaku-ji - Vale dos Templos, fica a apenas 35 km da capital, em Itapecerica da Serra.

O local remete à cidade imperial de Kioto, no Japão, e é perfeito para os paulistanos que vivem estressados com a correria e o trânsito da metrópole. Quem visita o Vale dos Templos, além de se encantar com a beleza do lugar, também encontra uma réplica do Kinkaku-ji (templo dourado, em japonês) construído em 1397 e considerado um dos mais bonitos do mundo.
A versão paulista foi construída sobre um lago. O local abriga também o Enkô-ji (templo das almas), construção zen-budista onde é possível meditar e orar.
Todo o vale foi idealizado pelo norte-americano Alonzo Bain Shattuck, veterano da 2ª Guerra Mundial e apaixonado pela cultura nipônica. “Tentei criar um pedaço do Japão aqui no Brasil e acho que consegui”, orgulha-se.

Os templos localizam-se em uma reserva de Mata Atlântica com área de 42 mil m2. Para chegar até lá, os visitantes caminham por trilhas íngremes, mas belíssimas, e enfrentam os mais de 250 degraus de uma escadaria. Na entrada, há o portal San Mon, que só é aberto em datas especiais, como o 1º dia do ano, Dia das Mães e Dia das Crianças, entre outros. A administradora do templo, Terezinha Toshiko Akune, explica que, segundo as tradições milenares, nestas datas é permitido aos espíritos elevados retornarem à Terra para visitar
seus entes queridos. “Então abrimos o portal para permitir a passagem deles”, diz.
Muitos visitantes não imaginam, mas, em meio a tanta beleza, o Vale dos Templos também é um cinerário, onde são guardadas as cinzas daqueles que optaram pela cremação. Toda a concepção do local foi um trabalho de Alonzo Shattuck, que, após lutar na 2ª Guerra Mundial, foi para o Japão participar da ocupação. No total, foram 15 anos no Oriente, tempo suficiente para tornar-se admirador da filosofia budista e das artes marciais.
Um dia, um amigo e professor de judô, que morava em Kioto, o convidou para visitar a cidade. “Quando conheci o Kinkaku-ji, todo folheado a ouro, fiquei extasiado e perplexo. Na minha opinião, é a obra arquitetônica mais bonita do mundo”, diz emocionado. O templo japonês que despertou tanta paixão em Alonzo foi construído originalmente para ser a casa do samurai Shogun Yoshimi Tsu Ashikaga e, mais tarde, a pedido do próprio, transformou-se num templo para guardar suas cinzas. Na década de 70, durante viagem ao Havaí, Alonzo conheceu uma réplica do templo, mas que era feita de concreto. “Pensei que, se um dia construísse, seria do jeitinho do Japão.”
Durante uma viagem de férias ao Rio de Janeiro, decidiu morar no país e construir o templo. “Sabia que em São Paulo havia uma enorme comunidade de japoneses. Pensando neles, Construí um pedacinho do Japão aqui.” Foram oito anos de construção, com projeto de arquitetura assinado pelo engenheiro civil, arquiteto e professor Takeshi Suzuki. Entre os detalhes, vale destacar que para construir a versão paulista do Kinkaku-ji, em madeira, não foi usado um único prego. “As vigas são todas encaixadas”, explica Alonzo. E a estrutura do telhado do templo é em concreto, coberto por placas de cobre, que dá a impressão de que trata-se de cobertura em casca de madeira.
O Vale dos Templos é emoldurado por jardins tipicamente orientais, com hortênsias e cerejeiras, além de orquidários, lagos com carpas coloridas, quedas d’ água e fontes de água natural. Terezinha, casada há sete anos com Alonzo, faz questão de enfatizar que o Vale dos Templos é um centro ecumênico aberto a todas as religiões, credos e filosofias. “Aqui temos missas, palestras e cultos. Não há descriminações. ”O templo, que conta com seis funcionários, sobrevive de doações e do cinerário — com a venda de nichos — que não tem taxa de manutenção. Uma vez por ano, a administradora realiza o Festival Primavera-Verão para divulgar um pouco da cultura oriental. A 8ª edição acontece este ano em agosto, nos dias 16 e 17, por causa das comemorações do Centenário da Imigração Japonesa. A programação inclui apresentações de artes marciais, danças orientais, workshops, shows, exposição de artesanato e festa com comidas típicas. “Aqui a gente sente uma paz interior muito grande. Quem vem pela primeira vez ao vale se surpreende com tanta beleza”, termina Alonzo. ■

Kinkaku-ji - Vale dos Templos: Rua Camarão, 220, Chácara Palmeiras (Itapecerica da Serra, a 35 km de São Paulo pela Rodovia Regis Bittencourt). Tel.: 4666-4895. Aberto de segunda a domingo, das 9h às 17h. A entrada custa R$ 5; menores de 10 anos e maiores de 65 não pagam.

(revista RSVP - Editora Caras)

De malas prontas para Pequim

TEXTO: ANA MUNIZ FOTOS: CAIO GUIMARÃES

Eles se dedicam de corpo e alma ao esporte. Não importa a modalidade, os atletas paulistas que chegam a Pequim são resultado de muita luta, persistência e sacrifícios. Com garra e esperança, essa turma, que nem sempre consegue patrocínio, promete brigar e muito na Olimpíada. Se tanto esforço valer uma bela performance, os brasileiros agradecem. Guarde esses nomes: Fabiana, Gustavo, Márcio e Luiza. E acompanhe-os a partir de 8 de agosto.

FABIANA MURER
A genética pode explicar o sucesso de Fabiana Murer, 27 anos, no salto com vara. Aos 7 anos, ela já se destacava na ginástica artística e adorava as acrobacias. Só que, na adolescência, aos 16 anos e com 1,68 metro, percebeu que tinha crescido muito para continuar no esporte. “É difícil admitir, mas ali não era mais o meu lugar”, lembra. Em 1997, mesmo sem convicção, passou a praticar salto com vara. Um ano depois, a garota magra e alta para as piruetas da ginástica artística já tinha conquistado uma vaga para o mundial infantil. “Disse para mim mesma: ‘Acho que levo jeito pra isso’”, relembra. E lá se vão 11 anos. Durante esse período, Fabiana, que nasceu em Campinas e mora na capital desde 1999, ganhou excelentes posições em mundiais — em Valença, na Espanha, ficou em terceiro lugar, saltando 4,70 m; em Osaka, no Japão, conseguiu o quinto lugar, com 4,65 m. A melhor marca foi um salto de 4,80 m, durante o último Troféu Brasil de Atletismo, realizado em São Paulo. Agora, ela, que treina em torno de seis horas por dia, promete brigar pelo ouro no dia 16 de agosto. “A melhor marca é 4,90 m, de uma americana, mas estou bem e acredito que nada é impossível”, diz. Alguém discorda?

MÁRCIO WENCESLAU
O que o seriado Jaspion tem a ver com o representante brasileiro em Pequim de taekwondo, na categoria 58 quilos, o paulistano Márcio Wenceslau, 28 anos? Tudo. Foi graças ao seriado japonês, recheado de lutas marciais, que a mãe do atleta, Irene, decidiu levá-lo para praticar o esporte. “Eu tinha 10 anos e, no fim de cada capítulo, eu e meu irmão Marcel saíamos lutando pela casa”, conta. Nem a própria mãe poderia imaginar as vitórias que viriam depois. Márcio tem em seu currículo centenas de prêmios, entre eles a medalha de ouro no Pan-Americano, da Argentina; e em 2006, a de prata, no Rio. Considerado um dos representantes mais fortes do taekwondo, o atleta leva uma vida espartana. Como não pode passar dos 58 quilos, come muita sa lada e grelhados e treina cinco horas diariamente. “É preciso ter muita garra e persistência, até porque não tenho patrocínio”, diz. E sabe o que aconteceu com o irmão com quem lutava, Marcel, de 27 anos? Ele é reserva de Márcio em Pequim. O atleta encara os adversários em 20 de agosto.

LUIZA TAVARES DE ALMEIDA
Aos 2 anos, pouco mais que um bebê, Luiza Tavares de Almeida cavalgava junto com a mãe, Thereza, na fazenda da família, em Itu, no interior de São Paulo. O início precoce fez da paulistana Luiza, hoje com 16 anos, a mais jovem amazona em toda a história dos jogos olímpicos. Aos 5 anos, competia na modalidade salto, categoria minimirim. Levou muitos tombos, mas jamais desistiu. “Quando caía e não queria mais montar, minha mãe insistia, para que eu não ficasse traumatizada”, diz. Ao completar 12 anos, o pai perguntou se queria competir seriamente. A resposta? Sim. Para corrigir a postura, começou a treinar na modalidade adestramento clássico — e aí se encontrou. Em 2 007, ajudou o Brasil a conquistar a medalha de bronze por equipe depois de 24 anos de jejum, nos jogos Pan-Americano do Rio. Em Pequim, compete de 10 a 13 de agosto, com Samba, um puro-sangue lusitano.

GUSTAVO TSUBOI
Uma brincadeira de adolescente Gustavo descobriu a vocação para a modalidade graças ao irmão mais velho, Henrique com quem sempre jogava tênis de mesa. De tanto brincar com o irmão, passou a se interessar mais pelas bolinhas. Foi aprender a jogar “de verdade” no Esporte Clube Banespa. Em menos de um mês de aulas, resolveu participar de campeonatos no colégio onde estudava, o Arquidiocesano. O destino estava selado. Os 11 anos de dedicação lhe valeram inúmeros títulos. Entre eles, duas medalhas de ouro nos mundiais infantis — de 2002, no Peru; e 2003, no Egito. E a medalha de ouro, em 2007, no Pan do Rio.
O segredo do sucesso? “Concentração e disciplina.” E, claro, talento natural. Há dois anos, Gustavo mora e treina na França, dedicando ao tênis de mesa cinco horas todos os dias, sob a orientação do técnico chinês Wei Jianrem. E é um dos prováveis candidatos ao ouro, encarando os concorrentes de 13 a 23 de agosto.
(revista RSVP - Editora Caras)

Patrimônio: Uma visita à residência de verão do governador




TEXTO: ANA MUNIZ FOTOS: ANA FASSONE

Construído no meio do Parque Estadual da Cantareira, um enorme casarão da década de 30 chama a atenção de quem visita o Horto Florestal. Trata-se do Palácio de Verão do Governo de São Paulo, uma construção com influências neo-coloniais e européias rodeada por árvores centenárias como o pau-brasil e o carvalho nacional e uma rica fauna que inclui capivaras e pássaros como garças, tico-ticos, tucanos e martins-pescadores. Além dos conhecidos Palácios dos Bandeirantes, no Morumbi, e Boa Vista, a residência de inverno, em Campos do Jordão, os governadores paulistas também contam com um refúgio durante o verão. Entre outros, o palácio da Cantareira já hospedou Adhemar de Barros, Mário Covas e, mais recentemente, Claudio Lembo. A casa é um verdadeiro museu, com peças dos séculos XVIII, XIX e XX. Entre os destaques, porcelanas da época do Império e gravuras da vegetação brasileira feitas pela botânica inglesa Margareth Mee. Apesar de abrigar inúmeras obras, o palácio não está aberto à visitação. Mas RSVP desvenda alguns segredos da casa para os milhares de curiosos que todo mês visitam o Horto. Cercado por sete mil hectares de vegetação, o Palácio de Verão tem arquitetura eclética que mistura influências neocoloniais e européias.

A história do Palácio de Verão tem início em 1890, quando o governo paulista decidiu desapropriar inúmeras fazendas existentes na Serra da Cantareira para recuperar a Mata Atlântica e preservar os mananciais. Depois de uma pesquisa feita por uma comissão formada pelo engenheiro Ramos de Azevedo e o naturalista sueco Albert Löefgren, uma delas, a da Pedra Branca, do comerciante Pedro Borges, foi transformada no Horto Botânico de São Paulo. Por causa do clima agradável e de sua geografia, fauna e flora diversificadas, o então governador Adhemar de Barros chegou à conclusão de que aquele lugar seria perfeito para abrigar a residência de verão dos governadores Paulistas. E ele tinha razão. A casa de verão, erguida bem no meio do Parque Estadual da Cantareira é um belo refúgio cercado por sete mil hectares de vegetação — maior floresta em área urbana do mundo —, com 90% de árvores nativas, como pau-brasil, carvalho nacional, pau-ferro, jatobá, eucalipto e até pinheiros históricos, que foram plantados em 1896 por Löefgren. Sem falar nas diversas espécies de animais que passeiam livremente pelo parque e próximos à residência, como macacos, capivaras e gambás. O palácio tem oito quartos (sendo cinco suítes), três salas (íntima, de estar e de jantar), um pequeno escritório, um hall, quatro varandas, uma adega e uma enorme cozinha. Nos fundos, há ainda a edícula do administrador do local e outra usada pelos policiais que fazem a segurança. Por dentro, a casa é um sonho, principalmente, para os amantes das artes. O local é recheado de obras históricas, como vitrais originais da Casa Conrado, empresa do final do século XIX que fez peças para pontos históricos de São Paulo, como a Casa das Rosas, a Faap e o Mercado Municipal. Há também mobiliário do período colonial brasileiro e releituras dos séculos XVII e XVIII, feitas nas décadas de 30 pelo Liceu de Artes e Ofícios. Os móveis eram feitos por artistas da época. Um lustre holandês em bronze do século XVII e até um oratório francês do século retrasado são outras preciosidades. Nos aposentos do governador, uma curiosidade: a cama instalada ali, trazida do Palácio dos Bandeirantes, foi usada pela Rainha Elizabeth II quando ela esteve em visita à cidade de São Paulo, no início dos anos 70. Desde que se tornou casa de campo do governo estadual, inúmeros governadores se hospedaram no local, como Adhemar de Barros, Paulo Egydio Martins, Paulo Maluf, Franco Montoro, Luiz Antônio Fleury e Claudio Lembo. Alguns fizeram até algumas obras para torná-la mais agradável. “O Abreu Sodré gostava muito de vir pra cá, tanto que mandou construir a piscina”, lembra o diretor do Departamento de Serviço e Conservação, Anibal Fernandes, que trabalha há quase 50 anos na manutenção dos três palácios. Fernandes conta que Orestes Quércia mandou construir um banheiro privativo no quarto principal, destinado ao governador. Mário Covas, que se hospedou na casa inúmeras vezes, principalmente quando já estava doente, fez melhorias para revitalizar o parque, por onde gostava de fazer caminhadas. A casa também passou por uma grande reforma entre março e abril de 1985, para abrigar o então presidente Tancredo Neves. Alguns freqüentadores do parque têm tanta vontade de conhecer o palácio do governador, que, vez por outra, aqueles que ultrapassam os limites do quintal são barrados pelos seguranças e o administrador do local, José Antônio Campos da Silva, que há quatro anos cuida da casa.

A GUARDIÃ DAS OBRAS DE ARTE
Com um jeito tranqüilo e seguro de falar, a curadora do acervo artístico e cultural dos três palácios, a diretora Ana Cristina Carvalho, é responsável por uma coleção com mais de 3500 obras, entre esculturas, pinturas, louças, prataria e mobiliário. Só no Palácio de Verão são cerca de 500 peças. “É um privilégio trabalhar com esse acervo lindíssimo”, diz, entusiasmada. Apaixonada pelo trabalho, ela acredita que a única maneira de o jovem preservar e respeitar obras de arte é conhecê-las. Tanto que desenvolve um programa educativo com monitoramento nos Palácios dos Bandeirantes e Boa Vista. Cheia de idéias e projetos, ela sonha com o dia em que verá o jardim do Palácio de Verão repleto de estudantes curiosos. “Tenho compromisso com o patrimônio e claro que gostaria de abrir essa casa para visitação e ver as pessoas mergulhadas nesse espaço bucólico. Mas é uma decisão que cabe ao governador”, desconversa, dizendo que, para o próximo ano, tem um grande projeto. Quem sabe os dias de palácio fechado está chegando ao fim!

Parque Estadual da Cantareira: Rua do Horto, 931 – Tremembé. Tel.: 6231-8555.