terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Patrimônio: Uma visita à residência de verão do governador




TEXTO: ANA MUNIZ FOTOS: ANA FASSONE

Construído no meio do Parque Estadual da Cantareira, um enorme casarão da década de 30 chama a atenção de quem visita o Horto Florestal. Trata-se do Palácio de Verão do Governo de São Paulo, uma construção com influências neo-coloniais e européias rodeada por árvores centenárias como o pau-brasil e o carvalho nacional e uma rica fauna que inclui capivaras e pássaros como garças, tico-ticos, tucanos e martins-pescadores. Além dos conhecidos Palácios dos Bandeirantes, no Morumbi, e Boa Vista, a residência de inverno, em Campos do Jordão, os governadores paulistas também contam com um refúgio durante o verão. Entre outros, o palácio da Cantareira já hospedou Adhemar de Barros, Mário Covas e, mais recentemente, Claudio Lembo. A casa é um verdadeiro museu, com peças dos séculos XVIII, XIX e XX. Entre os destaques, porcelanas da época do Império e gravuras da vegetação brasileira feitas pela botânica inglesa Margareth Mee. Apesar de abrigar inúmeras obras, o palácio não está aberto à visitação. Mas RSVP desvenda alguns segredos da casa para os milhares de curiosos que todo mês visitam o Horto. Cercado por sete mil hectares de vegetação, o Palácio de Verão tem arquitetura eclética que mistura influências neocoloniais e européias.

A história do Palácio de Verão tem início em 1890, quando o governo paulista decidiu desapropriar inúmeras fazendas existentes na Serra da Cantareira para recuperar a Mata Atlântica e preservar os mananciais. Depois de uma pesquisa feita por uma comissão formada pelo engenheiro Ramos de Azevedo e o naturalista sueco Albert Löefgren, uma delas, a da Pedra Branca, do comerciante Pedro Borges, foi transformada no Horto Botânico de São Paulo. Por causa do clima agradável e de sua geografia, fauna e flora diversificadas, o então governador Adhemar de Barros chegou à conclusão de que aquele lugar seria perfeito para abrigar a residência de verão dos governadores Paulistas. E ele tinha razão. A casa de verão, erguida bem no meio do Parque Estadual da Cantareira é um belo refúgio cercado por sete mil hectares de vegetação — maior floresta em área urbana do mundo —, com 90% de árvores nativas, como pau-brasil, carvalho nacional, pau-ferro, jatobá, eucalipto e até pinheiros históricos, que foram plantados em 1896 por Löefgren. Sem falar nas diversas espécies de animais que passeiam livremente pelo parque e próximos à residência, como macacos, capivaras e gambás. O palácio tem oito quartos (sendo cinco suítes), três salas (íntima, de estar e de jantar), um pequeno escritório, um hall, quatro varandas, uma adega e uma enorme cozinha. Nos fundos, há ainda a edícula do administrador do local e outra usada pelos policiais que fazem a segurança. Por dentro, a casa é um sonho, principalmente, para os amantes das artes. O local é recheado de obras históricas, como vitrais originais da Casa Conrado, empresa do final do século XIX que fez peças para pontos históricos de São Paulo, como a Casa das Rosas, a Faap e o Mercado Municipal. Há também mobiliário do período colonial brasileiro e releituras dos séculos XVII e XVIII, feitas nas décadas de 30 pelo Liceu de Artes e Ofícios. Os móveis eram feitos por artistas da época. Um lustre holandês em bronze do século XVII e até um oratório francês do século retrasado são outras preciosidades. Nos aposentos do governador, uma curiosidade: a cama instalada ali, trazida do Palácio dos Bandeirantes, foi usada pela Rainha Elizabeth II quando ela esteve em visita à cidade de São Paulo, no início dos anos 70. Desde que se tornou casa de campo do governo estadual, inúmeros governadores se hospedaram no local, como Adhemar de Barros, Paulo Egydio Martins, Paulo Maluf, Franco Montoro, Luiz Antônio Fleury e Claudio Lembo. Alguns fizeram até algumas obras para torná-la mais agradável. “O Abreu Sodré gostava muito de vir pra cá, tanto que mandou construir a piscina”, lembra o diretor do Departamento de Serviço e Conservação, Anibal Fernandes, que trabalha há quase 50 anos na manutenção dos três palácios. Fernandes conta que Orestes Quércia mandou construir um banheiro privativo no quarto principal, destinado ao governador. Mário Covas, que se hospedou na casa inúmeras vezes, principalmente quando já estava doente, fez melhorias para revitalizar o parque, por onde gostava de fazer caminhadas. A casa também passou por uma grande reforma entre março e abril de 1985, para abrigar o então presidente Tancredo Neves. Alguns freqüentadores do parque têm tanta vontade de conhecer o palácio do governador, que, vez por outra, aqueles que ultrapassam os limites do quintal são barrados pelos seguranças e o administrador do local, José Antônio Campos da Silva, que há quatro anos cuida da casa.

A GUARDIÃ DAS OBRAS DE ARTE
Com um jeito tranqüilo e seguro de falar, a curadora do acervo artístico e cultural dos três palácios, a diretora Ana Cristina Carvalho, é responsável por uma coleção com mais de 3500 obras, entre esculturas, pinturas, louças, prataria e mobiliário. Só no Palácio de Verão são cerca de 500 peças. “É um privilégio trabalhar com esse acervo lindíssimo”, diz, entusiasmada. Apaixonada pelo trabalho, ela acredita que a única maneira de o jovem preservar e respeitar obras de arte é conhecê-las. Tanto que desenvolve um programa educativo com monitoramento nos Palácios dos Bandeirantes e Boa Vista. Cheia de idéias e projetos, ela sonha com o dia em que verá o jardim do Palácio de Verão repleto de estudantes curiosos. “Tenho compromisso com o patrimônio e claro que gostaria de abrir essa casa para visitação e ver as pessoas mergulhadas nesse espaço bucólico. Mas é uma decisão que cabe ao governador”, desconversa, dizendo que, para o próximo ano, tem um grande projeto. Quem sabe os dias de palácio fechado está chegando ao fim!

Parque Estadual da Cantareira: Rua do Horto, 931 – Tremembé. Tel.: 6231-8555.

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