terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Viaje ao Japão com o seu carro

TEXTO: ANA MUNIZ FOTOS: BRUNO BARRIGUELLI

Construções em estilo japonês, lagos com carpas, espaços para meditação e muita área verde com macacos, sabiás e beijaflores. Esse paraíso, chamado de Kinkaku-ji - Vale dos Templos, fica a apenas 35 km da capital, em Itapecerica da Serra.

O local remete à cidade imperial de Kioto, no Japão, e é perfeito para os paulistanos que vivem estressados com a correria e o trânsito da metrópole. Quem visita o Vale dos Templos, além de se encantar com a beleza do lugar, também encontra uma réplica do Kinkaku-ji (templo dourado, em japonês) construído em 1397 e considerado um dos mais bonitos do mundo.
A versão paulista foi construída sobre um lago. O local abriga também o Enkô-ji (templo das almas), construção zen-budista onde é possível meditar e orar.
Todo o vale foi idealizado pelo norte-americano Alonzo Bain Shattuck, veterano da 2ª Guerra Mundial e apaixonado pela cultura nipônica. “Tentei criar um pedaço do Japão aqui no Brasil e acho que consegui”, orgulha-se.

Os templos localizam-se em uma reserva de Mata Atlântica com área de 42 mil m2. Para chegar até lá, os visitantes caminham por trilhas íngremes, mas belíssimas, e enfrentam os mais de 250 degraus de uma escadaria. Na entrada, há o portal San Mon, que só é aberto em datas especiais, como o 1º dia do ano, Dia das Mães e Dia das Crianças, entre outros. A administradora do templo, Terezinha Toshiko Akune, explica que, segundo as tradições milenares, nestas datas é permitido aos espíritos elevados retornarem à Terra para visitar
seus entes queridos. “Então abrimos o portal para permitir a passagem deles”, diz.
Muitos visitantes não imaginam, mas, em meio a tanta beleza, o Vale dos Templos também é um cinerário, onde são guardadas as cinzas daqueles que optaram pela cremação. Toda a concepção do local foi um trabalho de Alonzo Shattuck, que, após lutar na 2ª Guerra Mundial, foi para o Japão participar da ocupação. No total, foram 15 anos no Oriente, tempo suficiente para tornar-se admirador da filosofia budista e das artes marciais.
Um dia, um amigo e professor de judô, que morava em Kioto, o convidou para visitar a cidade. “Quando conheci o Kinkaku-ji, todo folheado a ouro, fiquei extasiado e perplexo. Na minha opinião, é a obra arquitetônica mais bonita do mundo”, diz emocionado. O templo japonês que despertou tanta paixão em Alonzo foi construído originalmente para ser a casa do samurai Shogun Yoshimi Tsu Ashikaga e, mais tarde, a pedido do próprio, transformou-se num templo para guardar suas cinzas. Na década de 70, durante viagem ao Havaí, Alonzo conheceu uma réplica do templo, mas que era feita de concreto. “Pensei que, se um dia construísse, seria do jeitinho do Japão.”
Durante uma viagem de férias ao Rio de Janeiro, decidiu morar no país e construir o templo. “Sabia que em São Paulo havia uma enorme comunidade de japoneses. Pensando neles, Construí um pedacinho do Japão aqui.” Foram oito anos de construção, com projeto de arquitetura assinado pelo engenheiro civil, arquiteto e professor Takeshi Suzuki. Entre os detalhes, vale destacar que para construir a versão paulista do Kinkaku-ji, em madeira, não foi usado um único prego. “As vigas são todas encaixadas”, explica Alonzo. E a estrutura do telhado do templo é em concreto, coberto por placas de cobre, que dá a impressão de que trata-se de cobertura em casca de madeira.
O Vale dos Templos é emoldurado por jardins tipicamente orientais, com hortênsias e cerejeiras, além de orquidários, lagos com carpas coloridas, quedas d’ água e fontes de água natural. Terezinha, casada há sete anos com Alonzo, faz questão de enfatizar que o Vale dos Templos é um centro ecumênico aberto a todas as religiões, credos e filosofias. “Aqui temos missas, palestras e cultos. Não há descriminações. ”O templo, que conta com seis funcionários, sobrevive de doações e do cinerário — com a venda de nichos — que não tem taxa de manutenção. Uma vez por ano, a administradora realiza o Festival Primavera-Verão para divulgar um pouco da cultura oriental. A 8ª edição acontece este ano em agosto, nos dias 16 e 17, por causa das comemorações do Centenário da Imigração Japonesa. A programação inclui apresentações de artes marciais, danças orientais, workshops, shows, exposição de artesanato e festa com comidas típicas. “Aqui a gente sente uma paz interior muito grande. Quem vem pela primeira vez ao vale se surpreende com tanta beleza”, termina Alonzo. ■

Kinkaku-ji - Vale dos Templos: Rua Camarão, 220, Chácara Palmeiras (Itapecerica da Serra, a 35 km de São Paulo pela Rodovia Regis Bittencourt). Tel.: 4666-4895. Aberto de segunda a domingo, das 9h às 17h. A entrada custa R$ 5; menores de 10 anos e maiores de 65 não pagam.

(revista RSVP - Editora Caras)

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