terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Um pedacinho de Cuba a uma hora de São Paulo



TEXTO: ANA MUNIZ FOTOS: CAIO GUIMARÃES

Poucos paulistanos que apreciam degustar e dar gostosas baforadas em habanos e puros imaginam que, a 100 quilômetros da capital (pouco mais de uma hora de viagem), existe uma fazenda que produz diariamente cerca de mil charutos com matéria-prima brasileira e tecnologia cubana. Na Fábrica La Union, comandada pelo cubano Diógenes Puentes desde 1999 no município de Boituva, são produzidos os produtos da marca Don Porfírio. O mestre charuteiro, como é chamado por causa de sua experiência na fabricação, participa e acompanha de perto todas as etapas da produção do charuto para garantir a qualidade.
Quem quiser conhecer um pouco mais sobre esse universo e saber como funciona uma fábrica de charutos pode participar das excursões até a La Union organizadas por Arthur Avedissian, dono da tabacaria Premium Cigars e um especialista no assunto. “O objetivo é proporcionar uma experiência única e com isso criar mais adeptos do mundo do charuto”, explica o paulistano.

Avedissian, que acaba de retornar de Cuba, conta que a idéia do passeio pela La Union é mostrar aos visitantes toda a magia que envolve a produção de um puro. A próxima visita, para 12 pessoas, está agendada para o dia 16 de maio. As inscrições podem ser feitas na Premium Cigars com o próprio Arthur pelo telefone 3266-5002 ou através do e-mail premiumcigars@premiumcigars.com.br.
A origem da Fábrica La Union é curiosa. Assim como o nome Don Porfírio, que significa Dom Teimoso, Diógenes Puentes, quando tem uma idéia, não desiste facilmente de levá-la adiante.
Após ter trabalhado por mais de 10 anos na fábrica cubana de charutos Romeu & Julieta — uma das mais famosas do mundo —, em 1998 ele veio visitar seu pai, que morava no interior de São Paulo, e percebeu que teria mais chances de evoluir e crescer economicamente se usasse seu know how para implantar aqui no Brasil uma manufatura de charutos. Mas que fique claro: Diógenes não é um refugiado de Cuba. “Meu pai já morava em Araraquara. Saí de Cuba de maneira legal, tanto que já voltei lá algumas vezes para rever meus parentes”, diz.
Após conhecer a região de Boituva, ele e seu compadre, o também cubano Mario Gonzalez, decidiram abrir a fabriqueta em 1999. Ele sofreu para recrutar quem quisesse ser charuteiro. Juntou sete mulheres e ensinou por três meses o ofício. “De dez que faziam o teste, só uma passava. É um trabalho difícil e requer talento, afinal envolve muita habilidade manual”, lembra. Pouco tempo depois, os dois atravessaram momentos bem difíceis financeiramente. Gonzalez saiu do empreendimento e Diógenes ficou só. Foi à falência, mas nem assim desistiu. Sem jamais perder a ternura e a esperança, conheceu em 2006 o empresário Luis Cláudio Barone. Dessa união de forças surgiu a La Union, que hoje possui 30 funcionários.
A primeira providência foi retirar todo o produto antigo do mercado e apresentar o novo. “Reformulamos tudo, desde a embalagem até o fumo. Então, decidimos fazer a troca sem custo nenhum para o comerciante, pois trata-se de um novo charuto”, explica Diógenes. Na fábrica, o charuto é feito artesanalmente, com 100% de tabaco natural, sem aditivos químicos, como ocorre no cigarro. Hoje, a La Union, que tem 100 mil puros no estoque, produz charutos long filler (feitos com folhas inteiras de fumo) e medium filler (com pedaços médios de folhas). A fábrica também faz cigarrilhas, chamadas de short filler, elaboradas com fumo picado. Todo o tabaco usado para fazer o Don Porfírio vem do Recôncavo Baiano — o quilo do fumo custa algo em torno de US$ 40. Nas tabacarias, um charuto Don Porfírio custa de R$ 8 a R$ 22.
Fábrica La Union: Rua Evaristo Martins de Lima, 522. Bairro Esplanada (Boituva). Tel.: (0xx15) 3363-1641.

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