terça-feira, 1 de dezembro de 2009

De malas prontas para Pequim

TEXTO: ANA MUNIZ FOTOS: CAIO GUIMARÃES

Eles se dedicam de corpo e alma ao esporte. Não importa a modalidade, os atletas paulistas que chegam a Pequim são resultado de muita luta, persistência e sacrifícios. Com garra e esperança, essa turma, que nem sempre consegue patrocínio, promete brigar e muito na Olimpíada. Se tanto esforço valer uma bela performance, os brasileiros agradecem. Guarde esses nomes: Fabiana, Gustavo, Márcio e Luiza. E acompanhe-os a partir de 8 de agosto.

FABIANA MURER
A genética pode explicar o sucesso de Fabiana Murer, 27 anos, no salto com vara. Aos 7 anos, ela já se destacava na ginástica artística e adorava as acrobacias. Só que, na adolescência, aos 16 anos e com 1,68 metro, percebeu que tinha crescido muito para continuar no esporte. “É difícil admitir, mas ali não era mais o meu lugar”, lembra. Em 1997, mesmo sem convicção, passou a praticar salto com vara. Um ano depois, a garota magra e alta para as piruetas da ginástica artística já tinha conquistado uma vaga para o mundial infantil. “Disse para mim mesma: ‘Acho que levo jeito pra isso’”, relembra. E lá se vão 11 anos. Durante esse período, Fabiana, que nasceu em Campinas e mora na capital desde 1999, ganhou excelentes posições em mundiais — em Valença, na Espanha, ficou em terceiro lugar, saltando 4,70 m; em Osaka, no Japão, conseguiu o quinto lugar, com 4,65 m. A melhor marca foi um salto de 4,80 m, durante o último Troféu Brasil de Atletismo, realizado em São Paulo. Agora, ela, que treina em torno de seis horas por dia, promete brigar pelo ouro no dia 16 de agosto. “A melhor marca é 4,90 m, de uma americana, mas estou bem e acredito que nada é impossível”, diz. Alguém discorda?

MÁRCIO WENCESLAU
O que o seriado Jaspion tem a ver com o representante brasileiro em Pequim de taekwondo, na categoria 58 quilos, o paulistano Márcio Wenceslau, 28 anos? Tudo. Foi graças ao seriado japonês, recheado de lutas marciais, que a mãe do atleta, Irene, decidiu levá-lo para praticar o esporte. “Eu tinha 10 anos e, no fim de cada capítulo, eu e meu irmão Marcel saíamos lutando pela casa”, conta. Nem a própria mãe poderia imaginar as vitórias que viriam depois. Márcio tem em seu currículo centenas de prêmios, entre eles a medalha de ouro no Pan-Americano, da Argentina; e em 2006, a de prata, no Rio. Considerado um dos representantes mais fortes do taekwondo, o atleta leva uma vida espartana. Como não pode passar dos 58 quilos, come muita sa lada e grelhados e treina cinco horas diariamente. “É preciso ter muita garra e persistência, até porque não tenho patrocínio”, diz. E sabe o que aconteceu com o irmão com quem lutava, Marcel, de 27 anos? Ele é reserva de Márcio em Pequim. O atleta encara os adversários em 20 de agosto.

LUIZA TAVARES DE ALMEIDA
Aos 2 anos, pouco mais que um bebê, Luiza Tavares de Almeida cavalgava junto com a mãe, Thereza, na fazenda da família, em Itu, no interior de São Paulo. O início precoce fez da paulistana Luiza, hoje com 16 anos, a mais jovem amazona em toda a história dos jogos olímpicos. Aos 5 anos, competia na modalidade salto, categoria minimirim. Levou muitos tombos, mas jamais desistiu. “Quando caía e não queria mais montar, minha mãe insistia, para que eu não ficasse traumatizada”, diz. Ao completar 12 anos, o pai perguntou se queria competir seriamente. A resposta? Sim. Para corrigir a postura, começou a treinar na modalidade adestramento clássico — e aí se encontrou. Em 2 007, ajudou o Brasil a conquistar a medalha de bronze por equipe depois de 24 anos de jejum, nos jogos Pan-Americano do Rio. Em Pequim, compete de 10 a 13 de agosto, com Samba, um puro-sangue lusitano.

GUSTAVO TSUBOI
Uma brincadeira de adolescente Gustavo descobriu a vocação para a modalidade graças ao irmão mais velho, Henrique com quem sempre jogava tênis de mesa. De tanto brincar com o irmão, passou a se interessar mais pelas bolinhas. Foi aprender a jogar “de verdade” no Esporte Clube Banespa. Em menos de um mês de aulas, resolveu participar de campeonatos no colégio onde estudava, o Arquidiocesano. O destino estava selado. Os 11 anos de dedicação lhe valeram inúmeros títulos. Entre eles, duas medalhas de ouro nos mundiais infantis — de 2002, no Peru; e 2003, no Egito. E a medalha de ouro, em 2007, no Pan do Rio.
O segredo do sucesso? “Concentração e disciplina.” E, claro, talento natural. Há dois anos, Gustavo mora e treina na França, dedicando ao tênis de mesa cinco horas todos os dias, sob a orientação do técnico chinês Wei Jianrem. E é um dos prováveis candidatos ao ouro, encarando os concorrentes de 13 a 23 de agosto.
(revista RSVP - Editora Caras)

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