quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Onde os coelhos fazem a festa o ano todo


TEXTO: ANA MUNIZ FOTOS: CAIO GUIMARÃES

Páscoa lembra renascimento, ovos de chocolate e, claro, o famoso coelhinho, símbolo da
fertilidade. Mas, além do conhecido coelho branquinho que as crianças adoram, há outras espécies pouco conhecidas como o lop, bem calmo, de orelhinhas caídas e que possui um pêlo bem macio. Para conhecer um pouco mais sobre a vida desses roedores tão adorados, principalmente pelas crianças, a dica é visitar a Fazenda Angolana, em São Roque, a 60 km de São Paulo. Lá, os coelhos são as estrelas. A fazenda abriga a maior criação de coelhos do Brasil, com 10 mil cabeças. O local é um verdadeiro paraíso para adultos e crianças que gostam de bichos. Na propriedade, vivem ainda animais de várias espécies, como lhamas, minipôneis, carneiros, cabritos, esquilos, emas, pavões,pássaros e cachorros, em uma área de 160 mil m2 de muito verde.

­A maior fazenda de cunicultura do Brasil — é esse mesmo o nome para a criação de coelhos — nasceu de um sonho do paulistano Ludwig Dewald Paraschim, de 70 anos. Descendente de suíços, o zootecnista sempre teve contato com a natureza e paixão por animais. Mesmo quando morou na Alemanha por cinco anos, época em que estudava metalurgia, dava um jeitinho e criava alguns coelhinhos em casa. De volta ao Brasil, trabalhou alguns anos na Volkswagen até que, há 25 anos, decidiu comprar uma fazenda para criação de coelhos. Foi batizada de Angolana — uma mistura de angorá (raça do coelho que criava) e lana (lã em
espanhol). O sucesso foi total e, na década de 90, chegou a ter 300 funcionários e 70
mil cabeças de coelhos angorá, que, com o pêlo tosquiado, dava origem a uma lã ultrafofa
ideal para confeccionar peças de cashmere. “Aí veio o Plano Collor e eu perdi tudo.
Nossa lã não valia mais nada”, lembra. A recuperação começou dez anos atrás de forma lenta, mas “persistente”, como define o proprietário. Entre as maneiras que encontrou para se reerguer, estava transformar a Angolana em uma fazenda múltipla. A criação de coelhos continua — mas não só de angorá. Hoje são mais de 20 raças diferentes de coelhos, que variam de 2 a 5 kg. Há também os gigantes, que podem chegar a até 8 kg. “Dos 10 mil coelhos da criação, apenas 50 são angorá”, diz Ludwig. A Angolana sobrevive da comercialização dos animais, da fabricação de gaiolas e do turismo. Na fazenda, o dia começa bem cedinho para Ludwig, por volta das 6h, ele já está circulando pela área, alimentandoos animais e recepcionando os 25 funcionários que chegam em torno de 7h. Os coelhos são as estrelas da fazenda e, além de entreter a criançada, também são vendidos para pet shops (alguns bem conhecidos, como o Cobasi), além de irem para abate em frigoríficos de todo o Brasil.
Neste local, tudo que é de coelho se aproveita. A lã ainda é retirada e vendida para a fabricação de artesanato; a pele se transforma em casacos e chapéus. Mas, com certeza, o principal atrativo da fazenda é o turismo. “Para torná-la mais interessante para o público, crio
outros animais, como lhama, avestruz e faisão.” O resultado foi tão positivo que hoje a fazenda conta com mais de 150 espécies diferentes. No local, há desde cães da raça beagle a minivacas. Por falar nos cachorrinhos, quem cuida de todos eles, mais de 35, é Daniel Dewald Paraschim, que comanda a fazenda ao lado do pai, Ludwig. “Os beagles fazem um enorme sucesso com os visitantes. Quando temos excursões de crianças, é uma loucura, porque essa é uma raça festeira, que adora brincar”, diz Daniel.

Na Angolana há mais de 20 espécies de coelhos. O tradicional branquinho custa a partir de R$ 15. Os de origem européia (ao lado) são vendidos a preços que variam de R$ 20 a R$ 50.
1 - A Chinchila, acinzentada, é a preferida para fazer casacos e tapetes. Pesa, em mé dia, 4 kg.
2 - A raça Lop, de orelhas caídas, é muito comercializada em pet shops, pois são bem calmos.
Pesam, no máximo, 2 kg.
3 - O Minifuzzi Lop, com pêlos na cara, também é o queridinho das pet shops. Também é calmo e tem a orelhas caídas. Pesa 2 kg.
4 - O Rex, de origem suíça, é uma espécie rara criada por cunicultores só como hobby. Na Europa, sua pele é usada em casacos. Pesa até 4,5kg. Com tantos bichinhos, não precisa nem
dizer que o local virou ponto turístico. Por semana, a fazenda recebe aproximadamente
três ônibus lotados de crianças que não vêem a hora de conhecer os coelhos e os outros animais criados por lá. “Muitas ficam fascinadas e com os olhos brilhando, pois nunca estiveram tão próximas dos animais”, diz o fazendeiro.

Na semana da Páscoa, vai haver uma programação especial na Aldeia dos Coelhos, um amplo espaço com muitos coelhinhos soltos para que as crianças possam senti-los e afagá-los. E, por falar neles, Ludwig avisa a adultos e crianças que, ao contrário do que dizem por aí, coelho não gosta de cenoura, mas sim da rama do legume. “O único coelho que eu conheço que gosta de cenoura é o Pernalonga”, brinca o zootecnista. Nos fins de semana, a fazenda recebe mais
de 200 visitantes (famílias inteiras) que buscam um contato maior com a natureza. Para recebê-los, há monitores de educação física, turismo, lazer e zootecnia. Cada um em sua área mostra como funciona o dia-a-dia na fazenda. Para aqueles que desejam passar o dia no local, a Angolana conta com uma lanchonete que serve de lanches e almoço. Os animais fazem tanto
sucesso na propriedade que o incansável Ludwig se prepara para encarar um projeto maior. “Até o segundo semestre deste ano vou fazer um zoológico da fauna brasileira dentro da fazenda com espécies como anta, arara e cotia. Quero ensinar a importância da preservação ambiental para a nossa vida”, finaliza o fazendeiro. ■

Fazenda Angolana: Estrada da Campininha, 257. Tel.: 4711-1640. (Rodovia Raposo Tavares altura do km 60, em São Roque). Escolas e grupos podem agendar visitas durante a semana,
a partir de R$ 10 por pessoa. No fim de semana, a entrada individual, custa R$ 1.
(revista RSVP. Editora Caras)

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